terça-feira, 15 de abril de 2008

Vitória

1.260 km rodados.
Não digo mais que estou viajando de bicicleta, agora estou viajando com a bicicleta.
Chego em Vitória depois de cruzar o norte capixaba de busão. Mas toda viagem tá sendo viagem.
O ônibus ficou parado na estrada por 2 horas, por causa de um acidente de trânsito.
Fomos o quinto carro a chegar. Acidente mortal. Fim de tarde de pôr de sol.
Corpos frágeis, de gravetos e manteiga.
Erro Fatal. "sanguê, sanguê, sanguê." A multidão de viciados pelo estranho, pelo dantesco, de butuca na porta do inferno, que fica topada, até o céu da boca, de curiosos.
Me lembro da primeira vez que vi um corpo morto, eu chegava da escola, também pôr do sol, o ônibus parou num trânsito, já estava perto de casa, a maioria desce pra ir andando, cruzamos a ponte onde uma multidão embrulhava um escultura de aço, muitos faróis, lanternas, o azul celeste só restava junto ao laranja no topo da barreira, e entre pernas e bundas eu vi ele sentado, com a cabeça descançada no volante. não fazia a ligação entre aquilo e alguém, era como a nova atração do circo, "orgulhosamente apresentamos, um morto". Um ser, uma entidade, com identidade de morto.
Dessa vez me esforcei pra ver vida pro trás da lona. O que ele devia pensar? Do quê ele gostava de fazer? Ele era um bom contador de piadas? Ele cuidava da mãe? Ele gostava de ler?
Que vida se depõe naquele morto. Os parentes chegam. Apenas uma chora. Qual o aprendizado do morto no segundo da morte?
Crio um personagem, imagino uma vida, e mato.
Chego em Vitória 12 da noite. Sou recebido por Elisa.
Vila Velha não é velha, praia bunita de gente e prédios novos.
A penumbra entre a Bahia e o Rio.
Sorrio.

2 comentários:

Paulo Laurindo disse...

Aê, meu moço remoçado, meu caboclo sansaruê!
Vitória!
A vida sempre vence a morte. Porisso é curta, pequena, frágil que, às vezes, a gente não dá um tostão furado por ela e no entanto é sempre vitoriosa.
Você vivenciou o mais longo trecho da viagem e nos deu ótimas, deliciosas histórias, agora é bailar no macio sem descuidar do olhar.
Quem desceu a ribanceira, caminhar no plano será uma benção.
Abraços!

Unknown disse...

Grande maurisco!! agora o resto é moleza, nada mais incomoda..e o suor ainda faz a vitória ficar mais gostosa!
grandes descobertas ainda pela frente e grandes encontros também. agora bem mais perto.
pois é...me empolguei e comprei um camelo, mas ainda to no iniciante.
boa sorte nesse fim de jornada!!
grande abraço