quarta-feira, 23 de abril de 2008

Rio de Abril

A paisagem vem mudando aos poucos.
Coqueiros,
canaviais, coqueiros, restingas, coqueiros, canaviais, dunas, as cidades são muito pequenas no meio do mundo, mata atlântica, dunas, restingas, manguezais, céu, céu, o tempo todo, céu é quando o olho tá com estiga, chão é quando o olho tá cansado, as amendoeiras(castanheiras ou coração de nêgo) na beira da praia fazem a melhor sombra, corais, coqueiros, restingas, manguezais, rodagens é onde as rodas rodam, nas vias do cacau não vi cacau, vi um monte, um monte pascoal, um monte gigante de pedra, a primeira pedra gigante, aueri, a paisagem mudou aos poucos, pedras gigantes nos diminuem, vitória é gigante de pedras e de água, morro do moreno vira penumbra entre monte pascoal e corcovado.
De Campos fui pra Macaé de ônibus, chego lá às 10 da manhã. ''Escola Municipal de Pescadores'' chama atenção. Pedras gigantes ao longe, mar entre pedras menores, e nuvens cinzas no alto.
Na rodoviária, me um senhor me serve chocolate quente de graça, ''já indo pra casa''. beleza.
Procuro meu guia, e pé girão.
De lá vou beirando mar passando por Rio das Ostras, Barra de São João, Buzios e Cabo Frio.
Durmo no Camping Ar Livre, seo Vanderlei via Rambo 4, e entre metralhadores que rancam cabeças, me pede a identidade, sabe como é , pra me identificar...
Acordo 4:20, arrumo as coisas, dou uma passada no ''café do trabalhador''', uma espécie de drive true gratuito de café com pão, quente pedal na ponte.
Rumo em busca da restinga de Massambaba. O mato da beira da pista, dá minha altura, bate na cara.
Monte Alto, Figueira... De um lado a lagoa de Araruama, bem pertinho. Um pouco mais longe, trás das dunas e do outro lado, o mar.
''Alagô as 'dunas' do meu coração''
pedalo com pressa no pé e calma n'alma. Meio dia chego em Saquarema, 90 km depois em 7 horas de transe.
Alomoço na Pensão de Naná, Inaiara e Solange me servem o mais farto e mais barato almoço de toda viagem, um frango empanado com fritas, arroz, feijão, macarrão e salada, por 4 reais.
Nessa me veio que fome é a saudade no estômago.
Refeito.
Pressa na mente, pois Solange me diz que ainda me faltam 100km até Nitéroi. Tremi. pois nos meus cálculos seriam de 50 à 60.
Até então a maior kilometragem foi de Olivença pra Canavieiras, 12o e poucos.
90 + 100, sabia que ia conhecer meu limite.
eu conheci.
Sai de saquarema pela orla como destino a Pedra Negra, passando por Jaconé.
Mar de ondas impressionantemente fortes. As maiores ondas que já vi de perto.
muita gente na praia, mas ninguém na água.
Em Pedra Negra de 14 horas, correr correr correr. Quero chegar no Rio hoje.
Continuo pela praia até Maricá.
Procuro outro guia. Encontro num posto de gasolina.
As nuvens me sombreiam.
Ele diz que ir pela restinga de Maricá a estrada é de terra, e que seria muito dificil ir pela praia até Nitéroi, pois eu não conhecia as trilhas pela serra da Tiririca.
Desisti no ato. ''Mas tem uma estrada depois da lagoa que sai em Inoã, e você pode pegar a BR"'
Foi essa mermo.
No caminho, cruzo com dezenas de trabalhos de umbanda, nem na Bahia tinha visto isso.
''Água que cai do céu é chuva''
Tinha esquecido como era.
Chego na beira da BR e pergunto prum confortável leitor, se essa rodovia me levaria ao Rio.
Ele olha com semirisada e descrença, era a força que em faltava.
A Nação Zumbi me acompanha por mais alguns metros e a energia do mp3 já era.
BEERREZÃO.
chuva, vrum, vrum, chuva.
chiiiii, vrum, pauleira, tava seguro no pedal.
quando a perna amolecia, o juízo botava gás.
eu tinha certeza que ia chegar. mas ainda me faltava comprir algumas provas.
Primeira:
sempre desconfie de uma poça d'água.
segunda:
se caminhão faz onda grande, ou leva lama na cara ou diminua o ritmo.
terceira:
''É melhor perder 5 min na vida do que perder a vida em 5 minutos''
quarta:
quando ver a placa com o nome de seu destino, não relaxe, a viagem só acaba quando termina.
Chego em Nitéroi as sete e meia, chuva pesada, fluxo intenso.
Placa curiosa: Retorno Caramujo.
retornar o caraí, quero é ir pra frente.
Procuro as barcas, ali em frente, depois esquerda, tal e tal, pronto.
Tô bem relaxado andando num terminal rodoviário próximo da barca, cheio de gente, hora do rush, quando por uma sombra me lembro, ''ei meu irmão, se ligue, cê tá no rio''
já dou uma bizoiada arround, pra ver se tem malandro de oio no matuto.
nada
tudo limpeza.
a bicicleta é uma pessoa MAIS CARA na barca.
vento frio e não consigo ver o as gigantes pedras do Rio. (que na vera é uma baía.)
Vou pro Flamengo, via Rio Branco, Machado alguma coisa, Hotel Glória e pumba. tô na vala.
agora sim é hora de relaxar.
Saulo e Marta tavam sem saber de mim
nunca gostei de telefones :)
Alojado. e chapado, o Rio é foda.
E eles ainda acham que português é burro. hãn!
Belessimentos que vazam a boca, belissitudes que esborram os olhos. ahhhhh!
estou com fome no coração.
de uma e de uns,
agora sou eu que leva a bicicleta nas costas, brava guerreira, me salvou várias vezes.
azul da proteção, sem nome e forte como um cavalo do sertão.
relaxando, laxando, ando, meio parado.

2 comentários:

Paulo Laurindo disse...

Tava comentando com o Silvio que está me parecendo que esta viagem vai continuar por um bom tempo ainda.
Será mesmo que você vai conseguir parar?
Acho que você foi inoculado por alguma coisa que está te deixando cada vez mais vivace, mais presto, mais alegro... vivendo uma sinfonia onde o final está me parecendo imprevisível, onde o acorde final está cada vez mais dificil de se antecipar.

Anônimo disse...

estou me surpreendendo com teu gás. Pra aguentar esse rojão todo, pra continuar a viagem apesar dos pesares e em meio a tudo isso ainda escrever de maneira tão empolgante.