quinta-feira, 10 de abril de 2008

De Canes à Cumuru

Internet pelo miolo do mundo é dificil e cara, portanto, pressa é o ritmo.
Estou em Cumuruxatiba, no municipio de Prado, já perto do findaBahia.
A chegada até aqui foi longa e demorada.
Canavieiras, na minha última postagem, é uma cidade cheia dos belessimentos, tem centro histórico numa beira de rio, tem centro comercial com tudo que se precisa, tem praia de rio e tem praia de mar, e nada disso mais ou menos, só de paraíso.
Minha jornada se reinicia à beira do rio Canavieiras. Cais antigo, com Iates modernos e canoas de tronco único.
Na minha ignorância, a travessia para Belmonte, seria como todas as outras, cerca de alguns minutos para atravessar uma boca de barra. Feliz engano.
Foram 1h e 30 mim de "viagem" pelos braços que ligam os rios Canavieiras ao Jequitinhonha.
Era 7h da manhã, sol as esquerda na altura do ouvido. Verde super saturado, azul de vertigem e chão de água doce. Só o filé.
Nessa, vi uma boa regra pra os tranzeuntes em geral.
"quem provoca onda grande diminui a velocidade ao passar por quem provoca onda pequena."
Os barcos têm um respeito, um pelo outro, que as estradas ainda não aderiram.
Belmonte.
Inicio da "Costa do Descobrimento".
Mugiquiçaba, Guaiú, Santo Antônio, Santo André, Santa Cruz Cabrália e Porto Seguro.
De Mugiquiçaba à Cabrália é o melhor trecho desse dia, no pedal.
As caras começam a mudar.
Ao invés da negritude, começo a perceber os índios. Em grande massa.
Em Porto Seguro tem toda uma história, beira estrada, para os Pataxós. Museu, feiras etc...
Porém, Porto Seguro é a síntese da Bahia Tipo exportação.
Passei rápido, sem olhar muito pros lados.
Chego em Trancoso bem muído, 8hs e meia de pedal, só parando por alguns minutos.
Vou subindo sem referências de picos. Cheirando a intuição(que estava afiada já tinha uns dias).
Pá, pá, pá, pá. Uma placa aluga-se quartos de uma casa bem humilde, primeiro sinal.
Pá, pá, pá, pá. Segunda placa, CAMPIN, ôpa.
Pá, pá, pá, pá. CUBA CAMPING, AÊEEE.
é ai mermo, e se fidel me receber na porta com um copo de rum, fico um mês.
Fidel, Fidel...
Pousada vazia. Gostei muito do que vi.
Desse um figura, "você já véio aqui."
"não não, um parecido"
Aloisio, maluco beleza tocador de clarineta, front man da BACOS BAND. hehe
Fiquei por quatro dias.
um monte de desenhos, alguns amigos, e muito macarrão com verduras.
Foi massa. Recomendo a todos. CUBA é aqui.
De Trancoso pra Caraíva foi duro. Tudo pela praia, areia fofa e muito peso, praticamente fui andando.
Chego em Caraíva, e antes de cruzar o rio encontro um moleque, Juva.
"Te vi passar por ali", "é mesmo" ...
Assim que passamos o rio numa canoa, pergunto ao mestre canoeiro sobre um camping ou algo do tipo, ele me diz um, mas em seguida Juva retruca, "mas se você quizer pode ficar lá em casa por cinco conto."
Eitá febre do rato que proposta massa. "É mermo".
Juva é Pataxó, e mora a um quilometro do centro de Caraíva.
Seu pai Xaru, sua mãe Cuiuba, Pataxós. A casa deles lembra as ocas da memória mítica, redonda sem paredes. Pequena, só cabe meia familia.
Fiquei na parte de fora abrigado pela barraca do mar.
Foi massa. De noite me serviram Arraia com fubá.
Pelo nascer do sol rumo.
pela praia até Ponta de Corumbau e pela rodagem até aqui.

Um comentário:

Paulo Laurindo disse...

Salve, salve Camará!
Já te presentia no Espirito Santo.
Mas vejo que o teu espírito tá santificado pela Bahia e rijo como pau de arueira. Também, depois de tantos caldos culturais que tens ingerido...! Como é que esse quase lusitano, com o coração dos antigos desbravadores sacudindo no peito, se sente diante desta paisagens primeiras? Retine na medula algum lampejo?
Eu, morto de inveja, ressussitado nesta tua aventura, pois quis fazê-la a muito tempo atrás, agradeço tua coragem e determinação.

Teu pai.