quinta-feira, 27 de março de 2008

Rio dos Siris - Sergï-ype

Neopolis.
Rumo a nova cidade.
Todo o Sergipe pra mim é uma Neopolis, pricipalmente o litoral.
A quase dois dias não vejo o mar. Rumar. Destino Pirambu.
Sabia que esse caminho seria na base da confiança com meus guias.
O primeiro um motoboy de Neopolis.
"Você sobe aqui, passa o hospital e tal...mas você num prefere ir pela BR não?...bom, aí se vai descê uma ladeira e depois é só ir reto".
Deu certo até a primeira bifurcação.
O segundo um senhor da altura de seus 60 anos com cara de 80 da altura de seu cavalo diz:
"oxi, mas Pirambu fica lá na beira do inferno"
é longe né?
"é muito longe"
"mas ói, você pega as isquerda e vai beirando o muro..."
Logo em seguida me aparece o terceiro guia.
Juro que torei um aço.
Eram dois caras numa moto.
Assim que eu virei a esquerda que o senhor me indicara, o piloto gritou: ou!
e fez um sinal com a mão pra esperar.
Num tinha o que fazer. Esperei.
"ô meu amigo, o senhor tá procurando o quê?", eles tinham visto eu falar com o cavaleiro.
- Tô rumando pra Pirambu.
"ahh sim, pensei que você procurava uns mochileiros que passaram andando à pouco por aqui, mas não né?" "o senhor vai por onde pra Pirambu?"
"vou lhe dá uma dica, que o senhor vai economizar uns...unss 40 km" tácafebredo rato.
Dúvida.
Os caras tinham todo o nipe de quem podia tá me fudendo.
Mas em todo o descaso resolvi confiar. Dei uma rezadinha.
Tudo certo.
Caminho certo.
Caminho de barro, beirando o muro(barranco pedregoso) até a SE220, asfalto, beleza, pegava uns 20 por hora no plano.
Placa. Entrada pra Pirambu. Barro de novo. Mas como as chuvas começaram agora, o chão ainda tá limpeza, sem poeira e sem lama.
pau pau pau pau pau pau.
Piranhas, 30 km de Pirambu, 12:30.
Tomei água num bar cheio de macho e que as atendentes eram umas idiazinhas lindas. Um som de fuder os ouvidos. "chega ai pra tomar uma", "vai pra onde", "vem de onde".
pouca conversa muita água.
pau pau pau pau pau pau.
Uma criança fala: "oia jesus cristo mainha".
Essa viu minha cruz.
pau pau pau pua pua pau.
Poucas ladeiras.
Ainda lembra Alagoas, mas os brejos e as dunas mudam os arranjos.
Os coqueiros estão sempre lá, a beirar mar.
Chego na comunidade do Robalo e bebo a melhor água que já me serviram.
Uma prosa de uns 10 minutos com o homem que me serviu água, sua esposa, um idoso que passava e resolveu parar e o vedendor de carne. Ele traz as carnes no bagageiro da moto, uns quarenta quilos.
Perguntei: Onde fica a entrada pro projeto TAMAR?
Onde você vê uma tartaruga você entra.
Beleza!
Eles ainda me deram uma garrafa cheia da boa água.
paupaupuapuapapuapaupaau.
Opa, opa. A tartaruga. Chapada. De cimento.
Porém tinha uma estranhas setas vermelhas apontando pro contrário.
O que será que significariam essas setas????
não dei bola(pq). Desci a Rua.
Vi uma casa com pessoas e perguntei masi uma vez.
-Essa rua vai dar no projeto TAMAR?
"TA o quê???"
ihhhh tá mar.
Mais minha insistência em ver o final foi o que me fudeu.
A estrada foi afunilando. O que era pra um carro agora era pra uma moto, o que era pra moto agora é pra uma pessoa teimosa arrastando uma bicicleta pessando 40 kg, o que era pra mim agora não era pra mais ninguém.
O problema da teimosia é que chega um momento que você não pode mais desistir, pois a desastre pode ser maior. A coisa a fazer é com serenidade continuar em frente, pricipalmente por que eu sabia que lá estava o mar.
Depois de muitos arranhões e minha primeira perda(perdi o chapéu que Mariama me deu, foi mal Mar), encontrei um rio, seria perfeito se eu não tivesse com uma bicicleta de 40 kg.
Quando já avistava o mar, avistei pessoas subindo o rio.
E perguntei mais uma vez: Porjeto TAMAR e coisa e tal?
Uma menina se acelerou " tá muito longe", eu "longe quanto", um cara "doze quilômetros", eu "tá perto então".
Pô doze, euto fazendo uma média de 15 por hora, e eu tinha por volta de hora e meia pro sol cair.
beleza! vou chegar.hauhauahauhauahauhau.
Quanto já estava de costas pra meus guias, a menor das meninas disse: " eu tenho pena do senhor moço", eu disse "tenha não", sem saber que era pra ter de fato.
A ignorância é superfície fértil pra desgraça.
Maré cheia.
Fui empurrado pra areia fofa. ou seja pedalar nem pensar.
me fudi.
na hora e meia que faltava pro sol baixar, só consegui andar 2km.
Bom. Fiquei consciente de que ia passar a noite por ali mesmo.
Cheguei numa boca de rio. E como lugar tem muitas dunas com vegetal média altura ia dá pra me proteger legal do vento.
Ok. é ali. passei o rio com a bike nas costas.
Vi que tinha rolado minha segunda perda. Minha cam digital. Tava no bolso. Molhousi.
Mas o que era um peidinho pra quem tava todo cagado.
Subi. Aproveitei a ultima luz pra montar acampamento. Já com a nova lona a prova dágua e coisa e água.
Bicicleta escondida no mato, malas na barraca.
Diogo!!! o duralumes quebrô um galhaço.
Bebendo água do rio numa fé ducaralho de que tava tudo certo.
E pra melhorar minha condição espiritual, era lua cheia topada.
Ducaralho. CéuLuaCéuMarTerraRio. Tô em casa. Ta tudo certo.
Laranjas, Maças, e Granola.
Sono tranquilo das 8 até as 5.
Desfazer acampamento e finalmente encontrar o TAMAR.
Manhã linda de maré seca, maré seca é pé no pedal, oia, que limpeza.
10 km em 40 mim.
Chego lá, pá, cadê o tamar. Ali ó. Massa.
Subi e encontro dois funcionários, vou procurando Jamile ou Jaqueline. Ainda intencionava pouso por uma noite lá.
"Rapáz elas num tão não"
Beleza, vejo que num vai rolar. Eles também me deixam confiantes dizendo que Aracaju tá somente a 40 km pelo asfalto.
9 hs da manhã, tempo bastante pra tomar um banho, limpar o câmelo descansar um pouco e rumar.
Nesse tempo conheço Seu Wilso, ex-tartarugueiro(cuidador) que pela idade foi promovido a vigia da base. Pescador contador de história que os mais novos(Moises) tiram onda, mas que diz ser profundo conhecedor do litoral de Aracaju a São Luís.
Papo solto, hora passa rápido, me despeço.
Olivas, Verdes, Cabeçudas e Pente. Curioso pelas de Couro.
Almoço uma posta de cavala como arroz feijão e macarrão.
ARARACAJU.
Estrada punk pra ciclista. Sem acostamento e com declive de varios cemtimetros.
Fui pirando num saco de brinco de viúva(aqui jamelão) e os loucos do domingo não me encomodaram tanto.
Barra dos Coqueiros. Ponte Monumental. Aracaju.
Faço hora pela cidade morta de domingo na espera de entrar em contato com Lula, meu pouso na cidade.
Paro num parque pra acabar com os bricos das viúvas, consigo água com o vigia, que não é de muita prosa, não insisto, o silêncio também liga as pessoas.
Dia caindo, resolvo procurar uma pousada, já que Lula tá de sumiço.
Atalaia Velha é o mercado das pousadas, mas como nesse mercado liso num tem vez, tive de rodar bastante.
30 conto por uma noite e um café da manhã. valeu.
Amanhã.Amanhã eu continuo.

2 comentários:

Paulo Laurindo disse...

Ô meu véio!
Quase que choro.
Comovente a cada passo.
Esta vida é um penar (e pedalar).
Mas só quem conhece o sofrimento tem o riso mais sincero, pois é incapaz de rir atôa, de bestage.
Bom, não sei mais o que dizer. Só sei que meu coração tá me dizendo pra confiar.

Teu pai!

Anônimo disse...

Mauri,
estou acompanhando daqui tua jornada... Pelo visto, as coisas não estão fáceis, mas assim é que é gostoso!
Divirta-se com os obstáculos e saboreie devagar a deliciosa sensação de superá-los.

Que a força esteja com você!

Do teu irmão, Daniel.

Ah... para você se distrair um pouco: vou ser pai de novo. Te conto tudo pessoalmente.

Te aguardo, beijos.